quarta-feira, 13 de março de 2013

MEIAS PALAVRAS


Nunca fui um sujeito ligado a analogias ou comparações, nem mesmo a divagar nas ocorrências desimportantes do dia-a-dia, mas nesta manhã me vi num drama bastante pertinente ao compromisso com a vida.
Tendo recolhido as roupas lavadas do dia anterior, notei que uma de minhas meias já não fazia mais par com a sua semelhante. Passei a procurá-la de um lado ao outro, no constragimento de quem não admitia esta separação. Foi então, que percebi o quanto apegado as convenções eu sou. De um modo geral, no psiquismo humano, orbita o conceito das perdas absurdas e inconsoláveis, numa clara demonstração de egoísmo crônico. Este sentimento é docemente amargo, que faz um chocolate suíço perder totalmente o seu valor para os apreciadores. Digo isto, porque volta e meia esbarro com pessoas separadas, a trombetear o nome de seus ex-conjugues, numa clara reação de aprisionamento subjetivo. Seu par se perdeu por aí e, não se conforma com isto.
Lembro bem de um grande amigo paranaense, relatando-me a triste história de uma adolescente a lhe dizer: "- Minha mãe te ama...minha mãe te ama !". No entanto, volta e meia ele se via enrubrecido pelo seu nome trocado ou assistia discussões homéricas ao telefone com o ex-marido por qualquer motivo e razão. Sem falar as histórias, que frequentemente ouvia sobre as alegrias vividas do passado ao lado do pai de suas filhas.
Lembro, que naquela ocasião me levantei da mesa, paguei a conta e fui embora bravo, porque considero uma brutalidade o sujeito se permitir a vivenciar isto. Dias depois eu sugeri de maneira insistente, que ele procurasse outra companheira, nem que fosse apenas para ficar, porque isto seria menos nocivo ao seu amor próprio. Seu par já estava muito perdido e, ele insistia em procurar, sem notar que tratava-se de um número menor, modêlo e cor diferente.
Não faço aqui, nenhuma apologia contra separados, descasados ou gente com passado, mas é importante entender, que não é aceitável anexar a sua vida, alguém que adoeceu e não deseja ser ajudado. Recursar-se a esquecer o pé-de-meia perdido e, não acalentar um novo amanhã ao lado de um novo par é no mínimo uma "loucura" querida, resultado de um egoísmo ainda não curado.

Jorge HENRY - Rio de Janeiro, 13 de março de 2013.